Manhã
Acordei com o barulho do pirex se estilhaçando no chão
e ela, bem humorada, disse:
"acordei você, meu Deus. Eu sou mesmo uma desastrada!"
e riu.
O sol, a se espreguiçar, lentamente invadia
a sala por dentre as vidraças coloridas das janelas.
Pelo ruído vagaroso que vinha lá de fora, pude imaginar
que o mar estava bem daquele jeito que mais parece
cochilo em cadeira de balanço.
“Deus ajuda quem cedo madruga”
e eu, que nunca dei ouvido a certos ditados,
me senti feliz pelo pirex,
pela gargalhadinha engraçada dela
e por ainda estar em tempo...
Tomou o último gole de café, colocou seus óculos escuros
de armação cor de carmim, cheirou um hibisco rosa
e arrumou a velha cadela na cestinha da bicicleta.
Acenou do portão com um “ah, minha neta, não é uma
maravilha morar em frente ao mar?!” e foi-se
pedalando devagar até fundir-se à paisagem
como num filme italiano.
Por toda a manhã, seus cabelos grisalhos
de pontas acobreadas pela tinta antiga,
persistiram em meu olhar a dançar uma
serenata, recordando-me o
afável aroma da paciência.
Raiça Bonfim
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