Onde é que dói na minha vida,
para que eu me sinta tão mal?
Quem foi que me deixou ferida
de ferimento mortal?

Eu parei diante da paisagem:
e levava uma flor na mão.
Eu parei diante da paisagem
procurando um nome de imagem
para dar à minha canção.

Nunca existiu sonho tão puro
como o da minha timidez.
Nunca existiu sonho tão puro,
nem também destino tão duro
como o que para mim se fez.

Estou caída num vale aberto,
Entre serras que não tem fim.
Estou caída num vale aberto,
nem terá notícias de mim.

Eu sinto que não tarda a morte,
e só há por mim está flor;
eu sinto que não tarda a morte
e não sei como é que suporte
tanta solidão sem pavor.

E sofro mais ouvindo um rio
que ao longe canta pelo chão,
que deve ser límpido e frio,
mas sem dó nem recordação,
como a voz cujo murmúrio
morrerá com o meu coração...

Cecília Meireles

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